Blog do Dodô

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Coditiano e história

Por Luís Salvador Poldi Guimarães

 Engenheiro civil, professor, palestrante, historiador da cidade de Mimoso do Sul

 

Antropologia, Vida e Obra de Santo Inácio de Loyola


11/10/2021 11h05 Atualizado em 11/10/2021 11h05

Santo Inácio de Loyola nasceu em 31 de maio de 1491 (estimativa). Nasceu na Espanha região basca do norte da Espanha, na atual cidade de Azpeitia (também aí nesta cidade foi batizado) na época província de Guipúzcoa em Loyola. Nasce no Castelo (Castelo dos Loyolas). Com o nome de Iñigo Lópes de Onãz y Loyola. Em 1506 (15 anos de idade) foi para Alévolo (cidade da Espanha) sob os cuidados de D. Juan Velásquez del Cuéllar, tesoureiro-mor da corte real castelhana a fim de adquirir, sob sua direção, formação básica de cortesão.


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Em 1517 inicia-se a Reforma Protestante. Neste ano de 1517 Santo Inácio vai fazer carreira militar e em 1521 foi para a cidade de Pamplona região de Navarra – Norte da Espanha para se posicionar na defesa desta região dos ataques franceses. Foi neste ano que sofreu o atentado a bala de canhão. Ele era o filho caçula de um total de 11 ou 13 irmãos.

Não se sabe muito a respeito de sua infância. Sabe-se que tomou um tiro de bala de canhão (acertara a perna ele tinha na época 26 ou 30 anos de idade 20/05/1521 e perdera esta perna - coxo). A partir deste episódio dedicou-se a leitura deitado. Aí conheceu a história de Jesus Cristo. Depois disto passou a escrever e a rezar. Teve contato com a obra: A Vida de Cristo de Ludolfo da Saxônia e a Vida dos Santos de Jacopo de Voragine.

O maior legado de Loyola foram os seus exercícios espirituais. O livro dos Exercícios Espirituais é um rico compêndio de espiritualidade cristã. De seu conteúdo poderiam ser desenvolvidos tratados completos sobre a maneira e o progresso da oração, sobre o papel da penitência no ascetismo cristão, sobre os métodos da tomada de decisão cristã, sobre a imagem adequadamente cristã de Deus, sobre o discernimento da verdadeira ação de Deus no espírito de uma pessoa.

Muito embora os Exercícios Espirituais tenham importância manifesta na vida de religiosos e seculares (que não seguem religião), o documento que talvez melhor revele sua importância para o catolicismo possa ser a carta encíclica “Mens Nostra: Sobre os Exercícios Espirituais”. Promulgada em 20 de dezembro de 1929 pelo Papa Pio XI, a encíclica é toda dedicada ao reconhecimento da importância dos Exercícios Espirituais na e para a história eclesiástica.

Quem escreveu a sua história foi outro jesuíta: Pedro de Ribadaneira em latim em 1572, ou seja, 16 anos depois da morte de Loyola. Não existe este livro em português. Muito se sabe sobre o santo, mas de Inácio de Loyola pouco se sabe. Existe um só documento, um documento semelhante a uma autobiografia publicada originalmente sob o título de Acta Patris Ignatii (Ata do Padre Inácio), encontrado também com o título de “O Relato do Peregrino” (1991). Esse documento, apesar de autobiográfico, não fora escrito através dos punhos do próprio Inácio de Loyola. “O Relato do Peregrino”, como já explicita o próprio título, ganhou corpo a partir da predisposição de Loyola em ditar alguns eventos de sua vida a um de seus companheiros de Companhia, na ocasião, o jesuíta Luís Gonçalves da Câmara entre os anos de 1553 e 1555. Depois de muita insistência para que relatasse sua vida, declara Câmara, “O Padre [Loyola] me chamou e começou a me contar toda sua vida e seus enganos de juventude, de uma maneira clara, distinta e com todas as circunstâncias. Em seguida, ele me chamou três ou quatro vezes durante o mesmo mês e seu relato chegou aos primeiros tempos de sua estadia em Manresa (cidade da Espanha onde permaneceu por quase um ano. Onde escreveu parte do livro)”.

Ele só adotou o nome Inácio numa carta de 1537 (46 anos de idade). Em homenagem a Inácio de Antioquia. Na cidade de Montsserat (perto de Barcelona – lá no finalzinho da Espanha) ao visitar um mosteiro beneditino teve uma visão de Nossa Senhora com o menino Jesus no colo. E a partir daí virou mendigo, porque ricos não entram no céu. Os meninos lhe chamavam de o homem do saco. Segundo ele teve também a visão da Santíssima Trindade. E começou a escrever o livro intitulado: Exercícios Espirituais. Trata-se de uma profunda preocupação com o corpo baseada no hesicasmo.

O hesicasmo é uma tradição que compreende uma oração solitária da Igreja Ortodoxa e aparece em algumas Igrejas Católicas Orientais, como as que seguem o rito bizantino, praticada pelo chamado hesicasta. Em busca da moderação e do equilíbrio. E grande preocupação com a vida interior, ou seja, é necessário despender mais tempo à meditação do que ao trabalho.

A partir desta experiência passou a se dedicar a orações, penitências, meditações, confissões e mortificações extremas. Devido a dualidade corpo e alma. Hoje extintas pela Igreja Católica. Sua ideia como andarilho era chegar a Jerusalém – A Terra Santa. Seu livro foi aprovado pelo papa Paulo III (220º ducentésimo vigésimo papa). Ele alcança Jerusalém no ano de 1523 (32 anos de idade). Depois regressa para a Europa para estudar mais. Gramática em Barcelona e esteve nas universidades de Alcalá (1526) e Salamanca (1527). Sempre mendigando para a sua sobrevivência. Por isso foi processado e preso por duas vezes pela Igreja Católica. A Inquisição o liberou. Depois seguiu para Paris. Na França estudou latim e humanidades no colégio de Montaigú (1528). Artes e Filosofia no colégio Santa Bárbara. E ainda se formou em Teologia. Foi em Paris que ele uniu Pedro Fabro, Diogo Laines, Nicolau Bobadilha, Afonso Salmeron, Francisco Xavier e Simão Rodrigues. Foi onde fundaram a Companhia de Jesus. Depois de passar pelos treinamentos dos exercícios espirituais. Era necessário saber ler e escrever em latim.

Todos eles fizeram então o voto de pobreza (Igrejas jesuítas são simples a exemplo a do padre Anchieta em Iriri), castidade e obediência (ao papa) na colina de Montmartre no ano de 1534. E seus objetivos eram fazer a peregrinação para Jerusalém. Mas, foram impedidos de viajar e juntos foram para a Espanha (1535), Veneza (1536) onde se ordenaram padres em 1537.

Em 1538 sofreram novamente perseguições inquisitoriais e no ano seguinte (1539) Fundaram a Companhia de Jesus. É aí que Santo Inácio escreve o livro denominado a Fórmula. Na verdade era um documento resumindo a sua proposta para solicitar a aprovação do papa Paulo III. Em 1540 o papa Paulo III aprova a Fórmula. Regras que os jesuítas deveriam seguir. Data oficial de sua fundação da Companhia de Jesus. O seu livro: Exercícios Espirituais foi traduzido para a língua portuguesa pelo padre R. Paiva. Neste livro Loyola descreve como o indivíduo deve se comportar na sua relação com seu próprio corpo exercícios corporais (voltados para o corpo) e como deve-se comportar na sua relação com a mente exercícios espirituais (voltados para a alma). Ele afirma que na meditação o homem pode atingir a iluminação pela virtude divina. Estes exercícios são semanais vai dos mais fáceis para os mais difíceis.

Pessoas voltadas para este tipo de pensamento, focadas na alma, são chamadas de místicas. Por isso ele ficou conhecido como místico cristão. Qual é o objetivo do livro? Alcançar a salvação salvando a sua alma. No tempo de Santo Inácio de Loyola existia a dualidade corpo e alma. O corpo é ruim e a alma é boa. Para Santo Inácio o ser humano foi criado para três funções: louvar, reverenciar e servir a Deus. E existem na natureza coisas que ajudam a salvação e outras que a impedem.

Para Santo Inácio saúde, riqueza, honra e longevidade não são critérios importantes para a Salvação. Para ele o homem deve ser indiferente a coisas do mundo. Outra coisa, Santo Inácio usa o termo alma e não espírito. Mesmo que seu livro seja denominado de Exercícios Espirituais. O que ele impunha na Companhia de Jesus era apenas a obediência. Na primeira semana de treinamento o Santo coloca a compreensão do pecado. Nós a chamamos de Semana do Eu Pecador. Buscando nesta primeira semana, invocar no leitor o sentimento de arrependimento, ou seja, a necessidade de conversão. Observando a desordenanças de sua vida! Ele as chama de afeições desordenadas. Um exame de consciência na forma de cinco exercícios. Sempre um exercício por dia em horário determinado. No primeiro dia da primeira semana pontualmente a meia-noite antes de dormir. Para cada dia existe um horário fixo e diferente. A primeira semana é focado em três pecados: pecado do anjo, pecado de Adão e Eva e o terceiro pecado o iniciante pode escolher (deve ser um pecado cometido por outra pessoa e não por você).

Na segunda semana o indivíduo deve fazer uma análise de sua vida. Tentando lembrar-se de todos os seus pecados. Esta análise deve ser para cada ano, examinando ano por ano. Anotando onde morou com quem se relacionou e as suas ocupações. E assim vai-se diminuindo a cada questionamento. Tipo: eu fui muito ruim, em não valo nada, como tive coragem de fazer isto, nossa! Como fui rancoroso ao responder aquela pessoa entre outros fatos que a sua consciência retornar como ruim, corrupção, quanto veneno! Na terceira semana repetir a segunda semana e na quarta semana repetir a segunda semana. Esta série termina quando o indivíduo passar pelo último teste denominado de: Meditação do Inferno! Observação importante: deve sempre existir um encarregado (líder) pela aplicação dos exercícios. Sempre se deve iniciar a série de exercícios depois de uma oração. Depois tentar imaginar como é o inferno. Uma vez no inferno você deve pedir o que deseja! Tentar ver as grandes chamas e os corpos dos pecadores como incandescentes. Ouvir os choros, os gritos de horrores. Sentir o cheiro da fumaça (enxofre) e da podridão. Observar as lágrimas e as tristezas dos condenados!

Até hoje este livro é muito estudado pelos teólogos, pelos psicólogos, pelos psicanalistas. Jung dedicou-se muito ao estudo desta obra quanto ao uso da imaginação. Porque o indivíduo aprende usando o mundo sensível como instrumento da Epistologia. Por isso formador, ministro de palavra, pastores, oradores, palestrantes. É necessário ter conhecimentos teológicos, filosóficos e psicológicos para ministrar uma homilia. Quem deixar tudo isto a cargo do Espírito Santo ti trumbicas! Estes exercícios eram pré-requisitos para entrar na Companhia de Jesus como Jesuíta. É preciso dar asas a imaginação! E só consegue isto através da prática de concentração, de meditação e desprendimento.

Ele dava muita importância ao controle do tempo. E anotação sistemática de seus pecados. Cada pecado deve ser eliminado e nunca mais repetido através do treinamento do corpo e da mente. Sempre comparado o dia de hoje com o dia de ontem a primeira semana de treinamento com a segunda e perceber e anotar o quanto você melhorou.

Não é minha intenção narrar toda a obras e as suas quatro semanas de treinamento o ouvinte pode ler a obra. É uma temática bastante explorada quando se vai para um retiro espiritual. Não vá para um retiro espiritual sem antes ter contato com esta obra.

É raro encontrar alguém que não gostou da leitura desta obras que trata das “penitências externas”, os modos de se alimentar, o jejum, as advertências sobre os modos mais adequados de dormir, o uso de objetos e asperezas sobre a carne, as posições mais adequadas para se dar curso às meditações/contemplações, dentre outras, são apontadas mais ou menos de modo enfático como aspectos da ascese corporal contida nos Exercícios.

Ascese → Conjunto de práticas e disciplinas caracterizadas pela austeridade e autocontrole do corpo e do espírito, que acompanham e fortalecem a especulação teórica em busca da verdade.

Santo Inácio escrevera três obras: Exercícios espirituais, fórmulas, Constituições (começa a escrever em 1547 foram 61 capítulos e 827 artigos). Eles seguiam a Ratio Studiorum = Método Pedagógico dos Jesuítas. Não foi escrita por Inácio, mas foi escrita a seu pedido (Colégios). O livro trata também do sacerdócio, do casamento, dos lucros, da maneira de dirigir uma casa, quanto de escola se deve ao pobre entre outros.

Ele vai permanecer em Roma até a sua morte em 1556 com 65 anos de idade. Se você hoje é católico agradeça a esta Companhia por divulgar o catolicismo conseguindo alcançar a marca de 50% da população do mundo tornado-a cristã. Os outros 50% dos habitantes do Planeta Terra nunca ouviram falar de Jesus Cristo. A última versão das Constituições da Companhia de Jesus foi renovada e aprovada na 34ª Reunião Geral ocorrida no ano de 1995.

Pouco antes de sua morte Santo Inácio de Loyola ainda escrevera uma autobiografia ditada por ele ao padre Luís Gonçalves da Câmara. Inácio foi beatificado em 1609 e canonizado em 1622. Os colégios não estavam nos planos de Inácio para serem de uso geral. Era restrito aos estudantes da ordem. Porém, a pedido dos oficiais da cidade siciliana de Messina – Itália. Foi aberto ao público em 1548. Elegendo os colégios a nível mundial a educação por excelência.

Até que em 1773 houve a supressão da Companhia de Jesus. Quando foi extinta ela possuía 865 colégios espalhados pelo mundo. Em 1814 a companhia de Jesus retoma as suas atividades e a reabertura dos colégios. Tudo isto documentado através das cartas jesuítas que eram obrigatórias informando sobre as atividades escolares e seus resultados e problemas. Estas cartas não eram livres. Tinham objetivos e funções padronizadas. Todas estas cartas estão atualmente conservadas no Archivum Societatis Iesu Romanum em Roma.

O crescimento foi tanto que gerou ciúmes até mesmo dentro da própria Igreja, no meio eclesiástico. Existiam duas modalidades de cartas uma pública (Carta Principal) e a outra secreta (hijuelas). O que muito confundiu os historiadores. Porque existem várias versões de uma mesma carta que foram modificadas antes de serem arquivadas. Misturadas com a verdadeira e original.

Entre 1524 a 1556 Inácio de Loyola escrevera 6.815 cartas. A maior parte delas preservadas até os dias de hoje. Separadas em 125 volumes e todas publicadas digitalmente nos arquivos da Companhia de Jesus. Por isto o mundo inteiro procura a cidade de Roma para cursar mestrado ou doutorado em Teologia.

Uma pena que nossos (brasileiros) primeiros jesuítas não seguiram esta exigência da Companhia de Jesus. Porque ainda não haviam recebido a Constituições que se deu somente em 1556. Considerada a maior e a mais influente ordem religiosa do Brasil colonial a Companhia de Jesus desembarcou no Brasil na Capitania da Baía de Todos os Santos no dia 29 de março de 1549.

Junto com a armada do primeiro governador do Brasil Tomé de Souza. Sob comando do Padre Manuel da Nóbrega com mais cinco missionários: Padre Leonardo Nunes, padre Antônio Pires, padre João de Azpilcueta Navarro, Vicente Rodrigues e Diogo Jácome (estes dois últimos eram irmãos e ainda não eram padres).

Polanco, o administrador geral da Companhia, reclamava constantemente das poucas informações referente ao Brasil. O Brasil respondia que havia falta de navios para enviarem as cartas. 1572 a Companhia já estava na 3ª administração Geral. O Brasil enviou centenas de cartas entre 1549 1559.

03/09/1759. Os jesuítas são expulsos do Brasil. Devido à tentativa de morte do rei português D. José I. Os acusados eram três jesuítas. Por Sebastião José de Carvalho e Melo (o Marquês de Pombal). E a acusação de formação de um Estado Paralelo e próprio no Brasil. E pelo papa Clemente XIV.

41 anos depois foi restaurada a Companhia de Jesus pelo papa Pio VII. O papa Francisco é o primeiro papa que pertence a ordem dos Jesuítas. Desejavam que ele fosse chamado de Clemente como um afrontamento ao papa já falecido que destituíra a ordem, mas ele preferiu se tornar Francisco.


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