BLOG DO DODÔ

COTIDIANO E HISTÓRIA

 
 Por Luís Salvador - Dodô

 Dodô é professor, palestrante, historiador da cidade de Mimoso do Sul

 

Conjuração Baiana De 1798



05/03/2021 11h10 Atualizado em 05/03/2021 11h32



Fazer Política é trazer à tona da imaginação os fatos esquecidos por nós brasileiros. No ano (1798) dois alfaiates e dois policiais são enforcados e esquartejados na Praça lá na Bahia. Isto porque a construção da memória histórica relaciona-se com a luta política.

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Um amontoado de pessoas simples que se mostraram descontente com a dominação portuguesa, ou seja, que lutavam por liberdade! Um movimento que se pode citar como legitimamente um movimento precursor da Emancipação Política do Brasil que iria culminar na Independência do Brasil. Movimento bem diferente da Inconfidência Mineira (1789) que era formada pela elite enquanto a Conjuração Baiana (1798) era formada pelos pobres, pela classe sofredora do Brasil, que foram acusados de crime de Lesa-Majestade por desejar criar um governo democrático no Brasil.

O primeiro a ser enforcado foi Luiz Gonzaga das Virgens Veiga. O segundo, João de Deus do Nascimento. As cabeças dos quatro foram espetadas em postes e colocadas no lugar de sua moradia. E no dia 11 de Novembro de 1799 o ar tornou-se irrespirável pela podridão emanada dos corpos das vítimas. E algumas autoridades interviram diante do governador baiano, na época, Dom Fernando José de Portugal e Castro, solicitando a retirada dos corpos podres. E claro, os quatro réus não foram os único que cometeram o régio delito! Por darem sentidos ao pensamento de Voltaire, Rousseau e Calvino. Provocadas pelas ideias da Revolução Francesa, da Revolução haitiana e pelo Liberalismo que se iniciava.

Na minha edição passada, quando comentei a história da maçonaria, disse que a história da maçonaria no Brasil iniciava pelos anos de 1797. Pois é, a ligação da Conjuração Baiana esteve ligada com o pensamento maçônico trazido à tona pela Revolução Francesa de 1789. Esses mártires do passado não podem passar batidos na História do Brasil. Porque não fossem eles e não seríamos grande porque era impossível manter a integridade de uma Nação tão grande, na verdade de dimensões continentais como é o caso do Brasil. Foram suas vidas que mudaram o destino desta Nação e nos proporcionou este Estado de Liberdade que hoje usufruímos.

Nosso futuro foi direcionado por nossos ancestrais. E temos que estar sempre relembrando e comemorando com muita alegria a sua memória. Porque deram a vida deles para melhorar a vida da gente. Na época Repercutia na Bahia o movimento chefiado pelo bravo negro Toussaint Louverture, no Haiti, contra os colonizadores franceses - o primeiro grande levante de escravos bem sucedidos na história. Aquelas mesmas ideias de República, Liberdade, Fraternidade e Igualdade pregadas na Revolução Francesa e na Conjuração Mineira agitavam agora a Bahia.

A população da cidade de Salvador, antiga capital do Brasil, vivendo em situação de penúria, depois que a capital do Brasil colônia foi transferida para o Rio de Janeiro (1763), pregava a necessidade de se fundar no Brasil uma "República Democrática" e uma sociedade onde não houvesse diferenças sociais, onde todos fossem iguais, e onde houvesse "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".

As ideias políticas da "Revolução Francesa" continuavam a chegar ao Brasil, inclusive por intermédio da maçonaria. A primeira loja maçônica, Cavaleiros da Luz, criada na Bahia, contava com a participação de intelectuais, como José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu, o farmacêutico João Ladislau de Figueiredo, o padre Francisco Gomes, o "médico cirurgião dos pobres" Cipriano Barata, o professor de latim Francisco Barreto e o tenente Hermógenes Pantoja, que se reuniam para ler Voltaire, traduzir Rousseau, e organizar a conspiração.

No dia 12 de agosto de 1798, surgiram nos pontos de maior movimento de Salvador, vários papéis manuscritos, pregados nos muros, chamando a população à luta e proclamando ideias de liberdade, igualdade, fraternidade e República. Os problemas sociais existem por causa da corrupção e do não cumprimento dos direitos.